Neste painel, faremos uma reflexão sobre a seguinte pergunta: "redes sociais, um ambiente para nossas famílias?". Vamos apontar três palavras chaves que ajudam nossas famílias a entender as redes sociais. Mas antes gostaríamos de nos apresentar.

Meu nome é Gustavo. E sou a Fabíola. Nossa história muito conectada com nossa missão, especialmente com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que transformou nossa vida. Iniciamos nosso namoro nos preparativos para a JMJ do Rio de Janeiro, em nosso amado país, e não tivemos medo de tomar uma decisão definitiva para o matrimônio. Passamos por um período em que nos encontrávamos a 1.500 Km distantes um do outro, mas foi através das redes sociais que continuamos a nos conhecer e construir nosso amor. Nos casamos em 2015, e um mês depois chegávamos em Cracóvia, na Polônia, onde passamos o primeiro ano de matrimônio como voluntários a colaborar com a JMJ 2016. Mais uma vez as redes sociais nos aproximavam da família e dos amigos. Em 2019 também tivemos a honra de colaborar com a JMJ no Panamá.

Em todas elas, trabalhamos no setor de comunicação do Comitê Organizador Local, coordenando e assessorando as redes sociais. E foi assim que testemunhamos milhões de interações, onde jovens tornam-se parte de uma mesma comunidade, onde se alegram e animam uns aos outros, onde há fraternidade e comunhão. Foi lindo ver tantos jovens de diferentes culturas e idiomas expressando o rosto de Cristo no ambiente digital. Vimos esperança para estas novas gerações conectadas.

Quem são estes jovens de hoje que habitam as redes? Podemos chamá-los de 'nativos digitais', 'chat generation', geração hiperconectada. Se você tem filhos desta geração, é muito provável que eles convivam nas redes sociais, e vocês sabem bem disso, certo? Seus filhos não assistem TV pois querem ver vídeos online. Seus filhos talvez não saiam muito de casa, mas se sentem repletos de amigos. Seus filhos acabam ingressando em novas plataformas que talvez vocês ainda nem entendam. Alguma semelhança com sua família?

Engana-se quem entende as redes como meios de comunicação tais como televisão, cinema e periódicos… A internet não é uma ferramenta, mas um ambiente onde frequentamos e nos relacionamos, chamado pelo Papa João Paulo II como o “primeiro areópago moderno" (Redemptoris Missio 37).

O ciberespaço mudou a forma como os jovens passam o tempo, compartilham informações e conversam uns com os outros. Isso levou a uma preocupação generalizada sobre seu potencial impacto negativo. Os potenciais riscos das redes sociais incluem a exposição a conteúdo nocivo ou inapropriado como sexo, drogas, violência; exposição a pessoas perigosas; cyberbullying e seu fator de risco para depressão e suicídio; compartilhamento excessivo de dados pessoais; exposição a anúncios excessivos; preocupações com privacidade; roubo de identidade; e a interferência na qualidade de vida. Mais do que isso, as redes podem "dificultar a comunicação em família e entre as famílias quando se tornam uma forma de se subtrair à escuta, de se isolar apesar da presença física, de saturar todo o momento de silêncio e de espera" (Dia Mundial das Comunicações, 2015).

Porém, é inegável a importante contribuição que as redes trazem. Nela, seus filhos podem permanecer conectados aos familiares e amigos, conhecer novos amigos com interesses em comum, encontrar uma comunidade e apoio para atividades específicas, como a vivência da fé, aumentar o aprendizado escolar, e podem se expressar. Todos nós temos o desejo fundamental de se relacionar com as pessoas. Seus filhos querem se sentir parte de algo, de sua própria comunidade, com seus amigos, e assim vão descobrindo quem são. Na Fratelli Tutti vemos que "a internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isto é uma coisa boa, é um dom de Deus" (Fratelli Tutti 205).

Acreditamos que a Igreja tem nos dado a resposta para um discernimento em família através de três palavras chave: identidade, diálogo, e testemunho.

A primeira palavra chave é identidade. O mundo muda constantemente mas de alguma forma é sempre o mesmo. Quem somos diante desse novo mundo proposto pelas mídias sociais? A tecnologia pode mudar muitas coisas em nosso comportamento, mas não muda o coração do homem. As redes nada mais são do que extensões da nossa vida, apresentam quem somos de verdade, e são formadas por pessoas. Quando estamos nas redes, um pouco de quem somos é compartilhado.

O Papa Bento XVI já alertava para o perigo da falta de autenticidade no ambiente online, sobretudo entre os jovens, com todas as ansiedades, as contradições e a criatividade própria de quem se abre com entusiasmo e curiosidade às novas experiências da vida. Ele afirmou na mensagem do Dia Mundial das Comunicações de 2011: "O envolvimento cada vez maior no público areópago digital das redes sociais leva a estabelecer novas formas de relação interpessoal, influi sobre a percepção de si próprio e por conseguinte, inevitavelmente, coloca a questão não só da integridade do próprio agir, mas também da autenticidade do próprio ser. […] Na busca de partilha, de amizades, confrontamo-nos com o desafio de ser autênticos, fiéis a si mesmos, sem ceder à ilusão de construir artificialmente o próprio «perfil» público".

Saber quem somos e conhecer os valores que carregamos e que não abrimos mão são pontos fundamentais para ter uma vida equilibrada nas redes sociais. Somente quando sabemos quem somos, da onde viemos e para onde vamos é que conseguimos partilhar nossa vida com os outros. Sabemos a nossa identidade? Ajudamos nossos filhos nessa busca?

Um casal de amigos partilhou conosco uma inquietação. Eles disseram: "temos medo que nossa filha cresça de uma forma individualista, nesta cultura de selfies, mas queremos que ela tenha atitudes para o coletivo, porque somos chamados a viver em comunidade". Que valores nutrimos nas nossas famílias para que os nossos filhos façam boas escolhas e vivam uma autêntica identidade cristã nas redes?

A segunda chave é o diálogo, a proximidade entre pais e filhos. Todos nós deveríamos refletir sobre o uso das redes sociais e encorajar o diálogo, mas precisamos entender o que impulsiona os filhos a estar ativos nesse ambiente digital. O que eles querem? Por que eles estão nas redes sociais? Como se sentem?
Para qualquer jovem, navegar na internet ou acessar redes sociais parece ser algo natural. Parecem já nascer sabendo como utilizar estes recursos. Até mesmo bebês conseguem navegar por vídeos e escolhem o que querem assistir. Porém, saber usar as redes não significa saber interpretá-las. Se as redes sociais são formadas por pessoas, a experiência de vida dos pais pode auxiliar os filhos no discernimento das relações no ambiente digital. Em contrapartida, os filhos podem auxiliar os pais a entender a lógica das redes e incluí-los em sua vida online. Um a aprender com o outro. E é por isso que os pais e as pessoas mais velhas precisam encontrar formas de diálogo. É preciso entender o mundo desses adolescentes, saber ouvi-los, construir pontes de diálogo.

Afinal, os pais querem monitorar seus filhos sobre a atividade e tempo gasto online, certo? E isso é genuíno; é um instinto de cuidado e proteção. Alguns utilizam o controle parental, recurso disponível em algumas plataformas para restringir o acesso dos filhos. Porém, assim que surge uma nova rede, eles já estão nela. E se o pai ou a mãe não tem abertura para o diálogo, talvez só saberá deste novo "ambiente digital" depois de um bom tempo. "Descobrindo diariamente este centro vital que é o encontro (no seio familiar), saberemos orientar o nosso relacionamento com as tecnologias e o de nossos filhos, em vez de nos deixarmos arrastar por elas", aponta o Santo Padre.

Falamos de identidade e diálogo. E nossa terceira palavra é testemunho. No almoço com jovens durante a JMJ 2016, um querido amigo perguntou ao Papa Francisco o que poderia dizer a um amigo ateu e recebeu a seguinte resposta: "Evangelizar é dar este testemunho: eu vivo assim, porque acredito em Jesus Cristo; eu desperto em ti a curiosidade da pergunta ‘mas por que fazes estas coisas?’. Porque acredito em Jesus Cristo e anuncio Jesus Cristo e não somente com a Palavra mas com a vida”.

A educação para as redes é importante para que o seu filho seja uma importante testemunha no mundo de hoje, que carece de jovens modelos de fé e de uma vida de valores e virtudes cristãs. Vocês já ouviram a expressão "jovem escuta outro jovem"? Se um jovem carrega consigo valores e virtudes em seus perfis online, então ele poderá influenciar outros jovens, sendo "influenciadores de Deus", assim como chamou o Santo Padre na última Jornada Mundial da Juventude do Panamá.

Vejamos também que belo testemunho nos deixou o jovem Beato Carlo Acutis e sua evangelização com websites ainda nos anos 90. Sabendo quem ele era, conhecendo sua identidade e o que movia seu coração, ele se utilizou das ferramentas online para falar do amor dele pela Eucaristia.

Nunca houve tamanha oportunidade que expandisse nosso círculo social e influência para usarmos para o bem e a promoção de um autêntico testemunho de vida. Afinal, como o mundo poderá crer nos valores cristãos se não os demonstramos na "vida real"? Aliás, isso vale também para vocês, pais: que testemunho vocês têm dado no ambiente digital? Quanto tempo vocês dedicam ao smartphone? Quanto expõem a vida da sua família nas redes sociais? Vocês têm respeitado o direito à privacidade de seus filhos? Que cada pai e cada mãe possa ser o modelo de presença consciente nas redes sociais para seus filhos.

Identidade, diálogo, e testemunho. Três chaves que se complementam para um caminho de discernimento em família. Que possamos ter a identidade cristã enraizada em nossas famílias, onde vivemos um pleno diálogo e não temos medo de mostrar ao mundo um autêntico e alegre testemunho de vida.

Amoris Laetitia nos diz: “Uma tarefa importantíssima das famílias é educar para a capacidade de esperar. Não se trata de proibir as crianças de jogarem com os dispositivos eletrônicos, mas de encontrar a forma de gerar nelas a capacidade de não aplicarem a velocidade digital a todas as áreas da vida.” (cf. AL 275). Se vossos filhos já têm ou não idade suficiente para estarem nas redes sociais, uma coisa é inquestionável: eles desejam frequentar este ambiente digital. Podemos educar e guiar de uma forma responsável e instruir sobre os riscos, perigos e também as possibilidades positivas. Exerça a supervisão saudável, o diálogo, e sejam amigos de seus filhos, muito mais próximos do que quaisquer amizade que eles possam encontrar nas redes sociais.

Tomemos cuidado ao buscar uma fórmula pronta para responder a pergunta deste painel. Que nossa partilha promova uma reflexão sobre este tema, e inspire nossas comunidades e famílias. Não nos esqueçamos de pedir discernimento e auxílio ao Espírito Santo, para ajudar a vocação de pais e mães, e que ilumine nossos filhos neste discernimento. A oração nos ajudará a encontrar respostas.

Concluímos com uma frase do nosso querido Papa Francisco: "como cristãos somos chamados a manifestar, também nas redes, a comunhão que marca a nossa identidade de crentes, abrindo o caminho ao diálogo, ao encontro, ao sorriso” (Twitter, 2 de jun de 2019).

Muito obrigado!

Sobre Gustavo Huguenin e Fabíola Goulart Huguenin:

Gustavo e Fabíola são brasileiros e casados há sete anos. Mesmo quando viviam distantes em um país continental como o Brasil - Gustavo em Cantagalo (RJ) e Fabíola em Florianópolis (SC) - a fé e o serviço à Deus os uniram como namorados e, enfim, como família. Gustavo é formado em design gráfico, atua em projetos de social media e marketing digital, e é coordenador de comunicação do projeto católico internacional Tweeting with GOD. Fabíola é jornalista, especialista em conteúdo religioso, atualmente é jornalista da Arquidiocese de Florianópolis. Ambos possuem 15 anos de experiência em comunicação católica, e trabalharam juntos no Comitê Organizador das Jornadas Mundiais da Juventude Rio 2013, Cracóvia 2016, Panamá 2019 e, agora, voluntários online de Lisboa 2023. Fazem parte das Equipes de Nossa Senhora e da Renovação Carismática Católica. Em sua atual paróquia, em Florianópolis, colaboram na Pastoral da Comunicação, na catequese de crianças e adultos.