Vivemos em uma realidade em que os ambientes digitais são e estão presentes cada dia mais em nossas casas, em nossos trabalhos, enfim em todas as nossas relações e precisamos ter clareza de todos os benefícios que este advento nos trouxe, bem como os seus desafios.

Considerando que, no período de pandemia, fomos praticamente forçados a nos adequar a essa realidade e rapidamente aprender como utilizar essa poderosa ferramenta nesse ambiente, até então pouco conhecido pela maioria de nós. Chegamos inclusive a ter a necessidade e possibilidade de acompanhar a Celebração Eucarística on-line.

E, da mesma forma, tivemos que aprender uma nova maneira de ser e de agir pastoralmente em nossa Igreja.

Nessa experiência podemos relatar que a própria Pastoral Familiar trabalhou muito durante esse período, com reuniões virtuais, encontros on-line, Assembleias, Simpósios que possibilitaram a participação de pessoas que talvez não teriam a oportunidade de estar presentes fisicamente se o evento acontecesse de forma presencial.

Assim como também foram proporcionadas formações de diversos aspectos que contribuíram para o melhor desenvolvimento de uma ação pastoral junto às famílias. Foram realizadas diversas lives pela própria Pastoral Familiar, assessorada por especialistas de reconhecido domínio em temas sobre o cotidiano familiar, suas alegrias e seus desafios, que puderam ser explorados e difundidos com amplo alcance, com temas dos mais diversos, pertinentes tanto às sombras quanto às luzes e às riquezas que as famílias trazem.

Na nossa experiência voltada ao Setor Pré-Matrimonial, foi possível nos reunir com todos os Regionais de maneira virtual em um curto período, coisa que não seria possível se não tivéssemos essas ferramentas. Assim, como tantas outras oportunidades de formação on-line que foram proporcionadas também neste Setor. Através de reuniões on-line com um grupo de trabalho das Comissões da Catequese, Juventude e Família da CNBB, tivemos a satisfação de acompanhar e colaborar na elaboração de um material que vem sendo pensado para a atuação junto aos adolescentes do pós-crisma.

Outra experiência que tivemos no uso do recurso destas ferramentas, foi com a catequese, com a oportunidade, enquanto catequistas, de trabalhar de uma maneira mais próxima com as famílias dos catequizandos, além das próprias crianças, pois, nos reunindo virtualmente, acessamos diretamente os lares promovendo maiores vínculos.

Tantos benefícios que toda essa realidade nos trouxe, também traz algumas preocupações, como muitas vezes acontece a disseminação aleatória de algumas fake news, que são, muitas vezes, compartilhadas sem o devido discernimento.

Sendo assim, é muito perceptível que tudo isso nos aponta muitos aspectos positivos, e de um outro lado nos acende um alerta para diversos perigos que também circundam esse meio. O manuseio consciente deste ambiente digital é fundamental.

Partindo já para realidade da própria casa, podemos testemunhar através da nossa experiência com nossos filhos que tem idades de 6, 11 e 17 anos hoje, ou seja, cada um está inserido em um contexto muito diferente, no que se refere ao uso e como lidam com essa situação e esses ambientes.

Por exemplo a Gabriela, nossa filha de 6 anos, relativamente é mais fácil mantê-la mais distante desses recursos, quando eles realmente não são apropriados para exposições de longo período, por mais que ela goste muito de “assistir no celular”, ela o deixa se alguma atividade lhe é proposta, principalmente se está lhe proporcionando proximidade e que a mantenha com ocupação que lhe seja agradável.

Tanto ela, como o nosso filho Vinícius de 11 anos, por não terem um aparelho de smartphone em suas mãos ainda, nos facilitam um certo controle do tempo de acesso a esse ambiente digital. É bem perceptível já nele a maior dificuldade em coordenar o tempo enquanto está exposto às telas...

E mesmo quando têm acesso, podem ser monitorados, e já usamos desses recursos de monitoramento por aplicativo, em que os pais têm acesso àquilo que eles estão vendo e ao que eles estão acessando, assim como também é possível delimitar o tempo de acesso.

Outro recurso muito válido para entender o que os deixa tão paralisados diante de youtubers e outras distrações virtuais, é estarmos em alguns momentos junto com eles para assistir o que eles estão vendo, conhecer um pouco mais daquilo que eles estão dedicando boa parte do seu tempo, daquele mundo que eles estão explorando. Ali se abre uma oportunidade de diálogo que contribui para o discernimento e a ponderação diante do que eles estão percebendo.

Já com nossa filha Caroline, que já passou dessas fases e já tem seu próprio smartphone, vemos que os maiores desafios são ligados às redes sociais, onde corre-se o risco de criar uma identidade paralela àquela que é realmente a da pessoa, em uma busca frenética por curtidas e seguidores. Com ela procuramos, da mesma forma, estar próximos para entender os meios que ela acessa, como ela faz isso e o que está sendo veiculado nesses ambientes. Um exemplo, em um destes ambientes, percebe-se claramente que a intenção é “criar um mundo paralelo”, um perfil dix, neste onde só os amigos selecionados têm acesso, são postadas situações mais aleatórias do que no perfil comum, eles dizem “coisas que não gostaríamos que todos vissem”, não temos a pretensão de ser aceitos nesse perfil, porém ela nos mostra (sem que solicitemos) as publicações que ela faz ali, ciente da liberdade e da responsabilidade confiadas a ela.

Isso nos faz lembrar, mais uma vez, que devemos estar atentos a todos os ambientes virtuais nos quais eles estão inseridos, ao mesmo tempo que respeitamos o espaço dela e tentamos nos fazer presentes, atentos e vigilantes. Buscando uma constante abertura ao diálogo, onde ela possa trazer situações que muitas vezes a deixam confusa, para que juntos possamos desenvolver e aprender mais sobre cada questionamento enquanto família.

Nas 3 situações, percebemos a importância de deixar sempre muito claro e muito presente no dia a dia quais são os valores que a nossa família busca e preserva, através dos nossos exemplos e de muita abertura ao diálogo.

Um pequeno testemunho de que estes valores ficam intrínsecos a eles, mas que vem à tona sempre que necessário, Vinícius, nosso filho de 11 anos, já relatou em alguns momentos saber de algum vídeo ou algum youtuber que ele ouviu falar ou que os amigos comentaram, e já mencionou várias vezes “vocês nunca me deixariam assistir aquilo”, sem que disséssemos necessariamente qual é bom e qual é ruim, apenas com seu critério e a consciência de que ali nesse ambiente não se propagam os valores que são pertinentes e cultivados em nossa casa.

Agora, pensando naqueles filhos que já não estão mais dentro de nossas casas, se refaz essa reflexão de que vão com eles os valores que foram cultivados a partir da própria família, então a moderação no uso e a conscientização nessa utilização será fundamentada por esses critérios.

Assim como todos esses meios podem nos trazer certas preocupações, também têm muitos benefícios, e não podemos dizer que não farão parte da nossa vida, do nosso cotidiano, da nossa realidade, devemos sim utilizá-los, porém com sabedoria. Pois nos apontam várias possibilidades, inclusive de sermos famílias missionárias que transmitem, através de suas publicações, postagens e mensagens, os verdadeiros valores do Evangelho.

É extraordinário quando utilizamos os meios digitais para amenizar as distâncias, quando a necessidade de não estar próximos existe, e podemos facilmente fazer esse contato até mesmo audiovisual.

Em nossa casa também temos a prática de, diariamente, no momento do café da manhã, após a leitura do Evangelho diário, procurar em uma rede social específica uma reflexão que nos questiona todos os dias “como viver esse Evangelho no dia de hoje?” muito breve, com recursos de imagem e áudio bem elaborados e que despertam a atenção de todos para a observância destes aspectos no decorrer do dia. Essa reflexão tem contribuído muito para a educação na evangelização dos nossos filhos e nossa também.

Concluindo, gostaríamos de deixar a mensagem de que devemos usar os recursos nos ambientes digitais da melhor maneira possível, procurando fundamentar a educação dos nossos filhos na medida dos valores cultivados em nossa casa. Dessa forma, somos chamados a ser a mesma pessoa no espaço virtual e nos espaços reais.

É preciso proporcionar a eles um tempo de qualidade. Sempre privilegiando os momentos de encontros pessoais que nos trazem experiências e um aspecto de alteridade que nem sempre são atingidos nos ambientes digitais.